Monday, January 17, 2011

Inocência




Sorriu um sorriso rasgado, daqueles que deixam os olhos miúdos e iluminam o rosto. Lá longe que estava ele, fazendo seus afazeres, cheio de contentamento. Foi inevitável ver o brilho que lhe rodeava. “Menino bonito”, pensou ela, sem segundas intenções, e seguiu seu caminho.
Foi que em poucos dias, estavam os dois, deitados na rede, e ele agora sorria pra ela. Sorria o tempo todo, por qualquer coisa boba. Fazia com que ela sorrisse também. Sorriam pra vida, com toda certeza, e isso, por si só, era o grande aprendizado da vez. Poder sorrir só porque a alegria era tanta que transbordava de tempos em tempos ao longo do dia.
Junto aos sorrisos estava a música, numa trilha sonora constante e variada. Vozes bonitas, assim como os sorrisos, que se revezavam dançando no ar, em escalas harmônicas com os solos que vinham de entre as árvores.
Entrou novamente em contato com sua pré-disposição pra ser índia, vivendo descalça na mata, balançando de lado pro outro na rede e tomando banho de rio. Podia viver assim sem data marcada pro fim. Dormir olhando pro céu, contando estrelas ao invés de carneirinhos. Sentindo cheiro de terra com chuva, tomando água com gosto da fonte.
Naqueles momentos de desaviso também aconteciam olhares, daqueles que olham no fundo da alma e revelam em silêncio o que sentem os seres. E de novo vinha o brilho, daqueles que irradiam e clareiam o que tiver por perto, de um jeito tal que faz os olhos enxergarem no escuro, e encontrarem cores que antes não tinham sequer se revelado.
Tinha vezes que os olhos se viam mesmo sem luz. Usavam das mãos para definir as formas e da boca para validar os gostos. Enxergavam os cheiros, os sons e as essências mais doces, daquelas que só podem ser extraídas depois de muito adentradas.
E a rede vinha, e depois ía. As vezes rápido, para que ela reclamasse, e outras devagar, para que as horas demorassem o máximo possível para passar. As mãos se juntavam, encostando duas vidas num mesmo momento, esquentando o corpo e deixando o coração calminho que só.
O sim se manifestava a todo instante, enquanto o mal nem dava conta de chegar por perto. Vinha a brisa, vinha a chuva, vinha o sol, tudo no tempo exato e com a duração perfeita. A mente seguia educada, sem fazer barulho algum, apenas observando o momento de cura. Enquanto balançava na rede, ela se curava do desamor e resgatava a inocência perdida em alguma esquina da vida. Ele crescia.

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